Inspirado por Raul e Drummond, relembro momentos que não voltam mais em algumas cidades/lugares que conheci no século vinte.
O vendedor ambulante apregoando seu "cuscuz paulista" pelas ruas pacatas do Recife de minha infância. Os luais adolescentes com fogueira e violão na tranqüila praia de Ponta Negra, em Natal. Os ensaios pra festa junina da rua Bacopari, mês inteiro de folia ingênua na vizinhança. A desabitada e linda Barra de Punaú, no Rio Grande do Norte, com seu riozinho e coqueiral, bem antes do hotel. O banho nas águas limpas da Lagoa da Conceição perto da pontezinha, em Floripa. E as pessoas todas que deram sabor a esses momentos.
Não gosto de glamurizar o passado, mas sinto uma pontada de tristeza quando revejo alguns desses lugares. Naquele tempo, às vezes pensava: "Um dia vou trazer meus filhos pra conhecer isso!" Bem, a real é que eles podem até visitar as coordenadas geográficas - e é possível mesmo que gostem, pois não terão o padrão de comparação. Mas as coordenadas temporais e afetivas, estas estão guardadas nalgum cantinho da memória. Muito de vez em quando, uma gavetinha se abre e algumas escapam pra respirar em forma de palavras, ainda mais imperfeitas que as lembranças. É como se dissessem que ainda vivem em mim e vão continuar vivendo se forem contadas.
18 maio 2006
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