O noticiário da televisão anuncia o fato: turista alemão se afoga depois de tentar salvar a nora na praia do Santinho. Confesso que não quis saber detalhes do choro da família, esse tipo de matéria em que filmam funerais e não dá uma só migalha de informação. Queria saber o que realmente aconteceu, como era a vítima, o que fazia em Florianópolis, como se desenrolou o evento.
O sábado foi de esplendoroso sol. Dá praia até ao meio dia, sem torrar a pele, neste abril bonito demais. Imagino a família na beira do mar diante de um acontecimento desses. Onde estavam os salva-vidas? A notícia, sem detalhes, foi dada pela apresentadora, como se ela estivese fazendo rádio. Nenhuma só imagem, nada. Onde estavam as equipes de reportagem? Filmando loja de chocolate. Vocês sabem como funciona. Se chove, a equipe sai à rua e pergunta como é essa coisa de estar chovendo. Se faz frio, idem. Está frio? Com certeza, é a resposta. Dá para curtir? Dá para curtir, responde o interlocutor que ganha de presente a resposta em forma de pergunta. Isso acontece em toda a televisão brasileira, não há exceções. No Natal, Páscoa, a mesma pauta recorrente. Há variações, mas normalmente é a repetição de sempre.
Não se trata de fazer reportagem policial tipo Datena, põe na tela que eu quero ver tragédia. Quero ver jornalismo. Mas o que se faz é marketing. Estão comprando muito chocolate nesta Páscoa, puxa, puxa, puxa, diz o pobre repórter pautado pelo departamento comercial. E o alemão que se afogou? Como era seu nome? Nadava bem? Fumava? A quantos metros estava sua nora quando ele viu o perigo? Como são as correntes marítimas ali na praia? As pessoas viram? Quem era a nora? E o marido dela? Pode até ser que nas próximas edições façam um carnaval sobre tudo isso. Mas com tanta tecnologia, notícia é on-line, na hora. Tira a reportagem do shopping e toca para o norte da Ilha!
Como os jornais de domingo saem no sábado de manhã (invenção da Folha de S. Paulo, que não suportava a hegemonia do Estadão aos domingos, o que foi copiado por toda a imprensa), fatalmente nada disso está reportado. Nos sites, não consegui ver nada. Morre anonimamente o jornalismo entre nós. Em compensação, puxa, puxa, puxa, como temos ovinhos neta Páscoa.
09 abril 2006
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Um comentário:
Parabéns, Nei. A imprensa local (os meios) é medíocre, incipiente e bobalhona. Menos para os seus interesses e interessados, é claro.
Perderam uma bela oprotunidade de prestar serviço á comunidade, informando-nos adequadamente e permitindo que outras tragédias como essa ocorram.
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