Da sala, na minha frente, vi o chumbo por trás dos montes. Mas à minha esquerda a situação estava pior. A massa de nuvens pesadas riscavam relâmpagos que assustavam a varanda. Fiquei um pouco na rede até que um raio caiu bem perto. Foi a luz intensa que caiu com estrondo, como um arco voltaico. A chuva, até então tímida, começou a apertar. Falei: é ciclone, vamos fechar tudo. Mas a chuva continuou daquele jeito e nenhum pé de vento mais forte nos pegou de frente.
Só no dia seguinte vi que o estrago passou a uns três quilômetros de onde moro. Tetos no ar, casas a céu aberto, árvores caídas. Escapamos por pouco. Não temos nada que nos defenda dos fortes ventos e vivemos numa ilha. Dependemos da sorte e da proteção divina. Pessoas próximas me ligam ou escrevem para saber se estamos bem. Choveu, disse, e de repente a lembrança da massa de nuvens se forma na minha frente, como um pesadelo. Com meu tamanho, um vento desses me levava para o alto mar.
No fundo o vento é um mistério. Falam em massa de ar fria se chocando contra o calor. Explicam isso todos os dias, para a gente acreditar. Para mim, o vento nasce onde quer e faz o roteiro que bem entende. Talvez tenha um DNA, um programa no seu movimento, que ainda não deciframos. Talvez sejam os espíritos, que adoram nos assustar.
25 março 2006
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Um comentário:
É, meu véio, a vida é por um triz.
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