A cidade vive lotada de papéis. São ofertas de empréstimos a juros baixos, financiamento de tudo o que se possa imaginar, anúncios de restaurantes, cartões de taxistas e vendedores de camelô, promoções de celulares sempre recheadas de descontos, tabelas de quantas calorias devemos comer, boletins e informes gratuitos sempre denunciando a desgraça de uma categoria ou anunciando as boas novas de algum candidatado. Esses papéis invarialvelmente vão parar em alguma parte da minha vida. Na roupa, se escondem nos bolsos da calça ou da jaqueta; no quarto, amontoam-se num canto, ao lado das pilhas de jornais ou nas gavetas, sempre abarrotadas. Os mais importantes são depositados com zelo em alguma caixa. Na pior das hipóteses, alojam-se sem eu saber na carteira onde ganham companhia de um talão de cheques amassado, extratos do banco e a anotação do lanche da tarde. Ou ficam no fundo da pasta, de onde só sairão depois da faxina semanal. Mais tempo ou menos tempo, todos esses papéis têm um destino certeiro: o saco do lixo.
Hoje eu recebi um desses papéis, que oferecia muito sem pedir um tostão em troca. Não, não era uma promessa de salvação de alguma igreja. Era o “Ciclo de filmes e debates: ditaduras e o cinema”, que acontece de “27 de março a 01 de abril, no auditório da Faed/Udesc, na rua Saldanha marinho, número 196, sempre às 18h30”. O filme em cartaz era Estado de Sítio, do Costa-Gravas, aclamado diretor grego que fez fama na década de 70 com obras de cunho político. O filme é excelente e conta o seqüestro do embaixador brasileiro e de um agente da CIA pelos guerrilheiros do Tupamaro. De brinde, o grupo CineArth, responsável pela mostra, realizou uma palestra com o escritor uruguaio Juan Luis Berterretche e com a professora de cinema e história da UFSC Fátima Lisboa.
Na volta para casa vi um catador revirando o lixo, na busca de garrafas de refrigerante ou latas de cerveja. Para meu azar não estava a procura de papel ou mesmo papelão, se estivesse poderia escrever esse texto como aprendi nas aulas do curso de jornalismo, onde o final se articula com a idéia inicial. Pena... Mesmo assim fica a dica – com a chegada do clima mais ameno trocar a cervejinha do happy hour por uma projeção de um bom filme numa sala escura. Para os interessado, abaixo a programação:
30/03/06 – Lamarca
Debatedores: Eliane Lisboa (jogral edição e artes ltda) e Maurício dos Santos (geografia da Udesc)
31/03/06 – Lúcio Flávio, o passageiro da agonia
Debatedores: José Paulino da Silva Júnior e Felipe Falcão (História da Udesc)
01/04/06 – Cabra Cega
Debatedores: Fátima Lima (artes cênicas da Udesc) e membro da delegação brasileira de psicanálise - SC
29 março 2006
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