Toda viagem tem uma conversa interminável, estridente, bem no meu ouvido. A mais recente foi de uma funcionária do Hotel Majestic, acompanhada por jovem magro e politicamente correto. O rapaz tecia comentários sobre a proibição cubana à viagem do Betinho, irmão do Henfil, vetado na ilha de Castro, segundo ele, porque era portador do virus da Aids. A garota explicava que uma lata de skol no Majestic custa cinco reais e que um hóspede, sem perguntar preço, pediu cinco, enquanto outro, assombrado com o custo, disse que iria até o Imperatriz mais próximo comprar uma caixa. Ela também informou que está tudo lotado para o reiveillon (259 apartamentos). Deu ainda detalhes da festa de Guga Kuerten na noite anterior, num dos apartamentos da Beira Mar Norte, visível naquela altura da viagem. Muitos seguranças e pessoas selecionadas, disse ela. Os relatos eram minuciosos e cheios de informações. As análises ficavam a cargo do rapaz, fã de conferências de celebridades sobre como vencer na vida.
Foi assim que ultrapassei os 35 quilômetros da minha casa até o Centro, ouvindo detalhes da vitrina da cidade, vista por pessoas bem informadas. Não adianta tentar fugir desses assuntos. É como conversa de celular: tudo sobre a vida alheia, pontuada com cortinas musicais variadas, desde sinfonias a sinos. "Já é a décima vez que ligo para ele, estou em Floripa, meu celular está ficando sem crédito, será que aí em Brasília é assim, não respondem quem liga? Diga que aqui é o Fulano". Olhei vagarosamente para a direção da voz. Uma cara redonda e dentuça de alguém que precisava falar com outro alguém que, fatalmente tinha a chave do cofre. E nada do danado abrir.
02 dezembro 2005
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