16 dezembro 2005

Caipora habla portunhol

Não lembro exatamente o ano. Eu devia ter entre 16 e 18 anos. Era Verão e a turma da qual eu fazia parte resolveu ir para a praia de Naufragados. Tudo combinado. E num sábado pela manhã nos encontramos no centro de Florianópolis para pegar o ônibus para a Caeira da Barra do Sul e de lá, a trilha de 30 minutos até Naufragados. Mas conseguimos perder o ônibus. E como os horários eram escassos, o próximo ônibus só iria sair por volta do meio-dia. Para não perder a viagem, sugeri:

- Quem sabe a gente pega o ônibus do Pântano do Sul e vai pra Naufragados pela praia do Saquinho.

- E tu já fez essa trilha?

- Não, mas sei que chega até Naufragados.

E como tinha um ônibus do Pântano no ponto, embarcamos nessa aventura.
Chegamos lá às 9h e começamos a caminhada pela praia, passando pelo balneário dos Açores, Costa de Dentro e Solidão, onde começamos a trilha. Na real, só o visual no começo da trilha já é mais do que suficiente. Mas não foi pra aquela turma de obstinados: combinamos de ir para Naufragados, então vamos para Naufragados.

Sem problema. Ninguém estava se importando muito com a distância nem com o tempo que levaria para chegar à praia. E a trilha parecia tranqüila para iniciantes. Parecia.
Num determinado ponto, a trilha sumiu. Apareceu uma clareira à nossa frente sem nenhum sinal de continuidade da trilha. Ficamos sem ação com a sensação de estarmos perdidos. Mas eis que surgiu uma pessoa da direção de Naufragados. Era um argentino. E do nada, perguntou:

- Tenés fumo?

Não tínhamos (de nenhum tipo). Alguém da turma perguntou o caminho para Naufragados e o argentino respondeu, solicito, com palavras e gestos. Ele desapareceu e seguimos o caminho indicado. Mas que deu em nada. Andamos em círculo, literalmente. O primeiro encontrou o último da fila.

- Que merda!

Depois de alguns minutos encontramos finalmente a trilha e passamos o resto do dia aproveitando a praia de Naufragados.

Voltamos pela trilha tradicional (Naufragados-Caiera da Barra do Sul). E no ônibus, o assunto era um só: o argentino que pediu fumo e ensinou o caminho errado. Rimos. Até que alguém falou:

- Devia ser o caipora.

Ficamos calados.

(Por mais que pareça, esse não é um texto de ficção.)

Um comentário:

Aline Cabral Vaz disse...

Muito boa a história!!! Aliás, vamos combinar essa trilha pra janeiro? Mas é melhor levar um fuminho pra garantir...