13 dezembro 2005

Histórias do Sul da Ilha

Segundo um ex-colega de faculdade, aconteceu com o sogro dele.
Um grupo de amigos tinha o hábito de pescar durante a noite em um costão de pedras no extremo sul da Ilha, entre as praias do Saquinho e de Naufragados. O caminho até lá segue uma trilha pelo mato à beira-mar. Saíram uma noite em quatro pescadores. Dois levavam pombocas, tipo de lanterna artesanal, na qual coloca-se uma vela dentro de um frasco de vidro, para proteger do vento, com uma alça de arame para carregar.
Seguiam a trilha quando uma das alças rompeu. Era uma noite clara, então, enquanto um consertava, outro se afobou e disse que ia à frente, "já preparando as coisas".
- Vai, apressadinho. Acabas levando um castigo.
Logo seguiram e, para surpresa geral, deram de cara com o amigo voltando, visivelmente contrariado.
- Não vou pescar mais coisa nenhuma. Vou-me embora.
E sem mais explicações pegou o rumo de volta, deixando os outros protestando atônitos.
- Pior pra ele.
E foram para o local da pesca. Ao se aproximarem, viram uma luz nas pedras.
- Já tem alguém lá - observou um deles. Bem no nosso lugar.
Foram ver quem era e não acreditaram: era o apressado.
- Não tinhas voltado? Como chegasse antes da gente?
- Tão maluco? Eu vim na frente!
Não teve conversa que esclarecesse. Ficaram achando que era piada.
Havia um lugar próximo, protegido do sereno e da maresia, tipo uma gruta, onde eles colocavam os mantimentos. Os quatro amigos se postaram pelas pedras, pouco distantes entre si, dedicados à paciente atividade da pesca de linha e anzol. A certa altura, um berrou para o outro:
- Quando tu fores lá na gruta me traz um pacote de bolacha.
Tempo depois, concentrado em espetar umas iscas, viu de relance uma luz na gruta. Terminou o que fazia e jogou os anzóis no mar. Virou pro amigo e perguntou:
- Lembrasse da bolacha?
- Nem fui lá.
Achou estranho. Olhou os outros dois, mais distantes.
- Ô, cês foram na gruta?
- Eu ainda não.
- Nem eu - disse o outro. Por quê?
- Vocês tão de história. Acabei de ver uma luz lá dentro.
E não teve conversa que esclarecesse.

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