20 março 2006

FARRA DO BOI


Assunto pedreira. No fim-de-semana, em Itapema, morreu um garoto, que caiu do caminhão no momento da farra; no Santinho, um boi invadiu uma propriedade. Há 25 anos participei de uma campanha publicitária na Propague contra a farra. Duas décadas e meia! E o assunto continua na mesma.

A farra é uma tourada popular não disciplinada. Ao contrário, reprimida e negada. Idêntico ao que acontecia com o entrudo, o Carnaval sem lei das ruas, onde havia toda espécie de violência. Os blocos saíam acompanhados dos capoeiras, uma escolta para enfrentar os adversários. O desfile oficial das escolas de samba foi uma invenção dos anos 30: uma intervenção do Estado que disciplinou o Carnaval e que persiste até hoje.

Em Pamplona, na Espanha, há uma gigantesca farra do boi que foi disciplinada pelo Estado: marca-se uma data, define-se um trajeto para os bois correrem soltos (porque esse é o sabor da tourada) e quem quiser entra no meio. Os bichos têm uma vantagem: podem perseguir os loucos que entram no caminho, mas acabam da mesma forma do que na farra por aqui: acabam sacrificados.

É possível que a crueldade na farra do boi entre nós tenha sido trazido por migrantes não identificados com a alegria da festa. A tourada popular era uma brincadeira, um pacto comunitário, de perseguição e cerco a um animal fora do curral, que era enfrentado de mãos limpas. Transformar o jogo em tortura, em encontro de sadismo, foi uma distorção de tudo o que o povo cultivava desde os tempos de colônia. Ou talvez seja mesmo a brutalização dos costumes, que atinge pessoas dentro e fora da região.

O problema é que tudo o que é autenticamente popular é proibido. Foi assim com a capoeira, a umbanda e agora com a farra do boi. Proibir sem ter como reprimir (a polícia de Itapema disse não ter efetivos para acabar com o evento) só serve para incentivar o aspecto transgressor, em detrimento do aspecto lúdico.

A grande farra do boi (vá lá, dos touros) de Pamplona é notícia todos os anos e um gigantesco gerador de recursos. Ninguém fala em barbárie de país não-civilizado, já que a Espanha é um país rico. Nossa farra do boi, sem sadismo nem crueldade, apenas um jogo de pega-pega entre pessoas e animais, poderia ser tratado com mais inteligência. Longe do falso debate entre virtuosos e pecadores.

Só não pode ficar do jeito que está.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu sugiro a FARRA DO BOY. Um aumento de salário considerável pra essa classe trabalhadora tão sofrida e tratada pior que gado, que poderia comemorar o ganho numa farra, naquela praça da figueira.

Anônimo disse...

Oi Nei, muito bom o panorama. Parabéns. Esse assunto realmente é pedreira, pois,tem muita gente falando bobagem e outros tantos fazendo vista grossa. Será que dá para achar uma fórmula para resolver a questão e todos (homens, bois, cavalos e inergúmenos) conviverem "harmoniosamente" ?