Semana passada escutei do seu Chico, pescador das antigas lá do sul da ilha, uma história que me deixou intrigado. Não porque ficou uma certa dúvida da veracidade do que contou, mas da paciência de repetí-la às pessoas e de enumerar e narrar fatos sem fazê-los entrar em contradição, mesmo quando interrompido com uma série de questionamentos. Fica ao leitor a decisão de acreditar ou não.
Há muito tempo seu Chico foi adepto da pesca submarina, daquelas que se mergulha apenas com máscara e arpão. Em um verão distante, "faz tempo, faz tempo", diz, ele pôs a bateira (bote) no mar e foi em direção a um costão, que formava uma pequena baía. O local não era muito freqüentado por pescadores porque temiam o fenômeno da Luz de Bota, muitos deles já a tinham visto por ali.
Ele sabia disso, mas achava o lugar bom de pescaria. Deixou a bateira amarrada em uma pedra a doze metros antes de começar a baía, formada pelo costão, preparou o arpão, respirou fundo e mergulhou. Ele tinha um bom fôlego e chegava a ficar por mais de três minutos embaixo d'água. Depois subia, enchia os pulmões de ar e novamente submergia. E assim fazia por horas, até pegar algum peixe.
Naquele dia, ele estava na espera de uma garoupa (Epinephelus marginatus) que tinha visto de canto de olho no dia anterior. Essa espécie de peixe não é muito comum de ser encontrada no verão perto da costa. Em geral, nessa estação ela procura abrigo em regiões com maiores profundidades (de 30 a 50 metros).
Mas seu Chico jura que a tinha visto e ela parecia ser bem grande. Ficou uma hora e meia até que percebeu o movimento mais no fundo. "Só podia ser ela." Foi chegando mais perto bem devagar e levou um susto. "Tinha mais de um metro e meio e uns 70 kg". Permaneceu imóvel por uns instantes e depois se preparou para atirar. Para arpoar a garoupa é preciso ter muita calma, pois "é peixe muito esperto, ele se esconde quando vê o pescador".
Mirou, puxou o gatilho e lá foi o arpão perfurando a cauda do peixe. Não tinha sido um bom tiro. A garoupa se debateu e desceu mais para o fundo, em direção a toca. Seu Chico, quando percebeu que sua mão tinha se enrroscado na linha do arpão já era tarde. Lá foi ele, sem reação, levado para dentro da toca da garoupa... (Continua)
10 dezembro 2005
Assinar:
Postar comentários (Atom)
6 comentários:
sacanagem, binho. conta logo o final
Isso me lembrou que na época de Instituto Estadual de Educação, principal colégio público de Santa Catarina, tive um professor de história, o Dejair, que era pescador do Pântano do Sul. Contava também as “suas” histórias. Eu e meus amigos sempre tirávamos onda, mas ele aparecia com fotos para comprovar seus feitos...
Gostei da estratégia, Fábio. Além de mim, deve ter muita gente curiosa... ; )
Conta, conta, conta!!!!!
só a foto pesa 1 quilo e 1/2...
Alexandre Wisintainer
ai, zesus! atiçassi!agora conta, istopor!
Postar um comentário